tag:blogger.com,1999:blog-6767077449106286688.post3639092216014133006..comments2023-02-05T10:14:04.024-08:00Comments on Os dias e os livros: Em defesa de Madame BovaryCarla Coelhohttp://www.blogger.com/profile/14075786817205228991noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-6767077449106286688.post-27467728785660249652011-10-11T05:42:38.595-07:002011-10-11T05:42:38.595-07:00É certo que a inquietude Emma Bovary parece result...É certo que a inquietude Emma Bovary parece resultar do facto de esta não se conformar com a vida pacata e medíocre que o seu marido Charles, médico de província, lhe proporcionava. Neste sentido, é, de facto, quase impossível não se deixar prender e apiedar-se de Emma, sonhadora, encantadora e bela como é.<br />Mas Bovary não é Anna Karenina nem Margarida Gautier, personagens que, na busca da felicidade que vislumbram no amor a outrem, abdicam da vida que lhes foi apresentada para perseguir outra, a duras penas. Contrariamente, Bovary é uma viciada em sentimentos e grandes emoções, desprendidas, a meu ver, daqueles que lhe suscitam as mesmas. Neste sentido, é algo vampírica, sustentando-se do que os outros personagens lhe dão sem nada dar em troca. Este aspecto da personagem é salientado nas passagens em que se refere que a mesma se se encontrava agradada ao sentir que havia atingido tão rapidamente aquele raro ideal de pálida e lânguida existência, tão fora do alcance dos espíritos medíocres, aqui se apresentando Emma como orgulhosa, desafinando as convenções sociais para satisfazer nada mais que o seu próprio ego e crendo-se merecedora de maiores e melhores riquezas do que outros apenas por ser mais bela. Da mesma forma, entrega-se a Rodolfo, ao êxtase religioso, às compras, com o mesmo entusiasmo, não porque ame o primeiro ou os objectos que adquire ou porque a fé a mova mas por necessidade de escapismo daquilo que entende ser a sua vida pequeno-burguesa. (“Confundia, no desejo, a sensualidade do luxo com as alegrias do coração, a elegância dos hábitos com a delicadeza dos sentimentos…”)<br />É certo ser difícil não empatizar com a personagem e aqui, aproximo-mo, do que é dito, pelo seu desejo de liberdade, que como intrínseco a qualquer ser humano, é sempre comovedor.<br />No caso, porém, todo o percurso do personagem faz inculcar a ideia de que fora a sua gaiola mais dourada e rica, talvez, os fulgores libertários de Bovary seriam mais facilmente apaziguados. No fundo Emma apresenta-se, como a ave conhecida pelo mesmo nome, sempre atraída por objectos mais brilhantes, extasiada pelos ideais do romantismo que recolhe dos livros que lê e pronta a deixar para trás os que já não brilham ou que a queimaram é, neste ponto, que me afasto da opinião acima exposta: Bovary é uma deslumbrada. Pudera ela, como se escreve a determinando ponto, debruçar-se no balcão de um chalet suiço, encerrar a sua melancolia num “cottage” escocês, com um marido envergando um longo casaco de veludo negro e punhos finos e tudo seria diferente (I.7.1)<br />O que me comove, acima de tudo, é o fim de Bovary e dos que deixa para trás, vítima das suas falhas e dos ideais românticos e é nisto que para mim reside a genialidade do romance de Flaubert, o retrato irónico e pungente do romantismo exacerbado que a todos os personagens arruinou.FGnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6767077449106286688.post-34117781348812828212011-10-10T02:30:40.038-07:002011-10-10T02:30:40.038-07:00Gostei do comentário e fez-me ter curiosidade de l...Gostei do comentário e fez-me ter curiosidade de ler o livro, que confesso, nunca li.<br />Concordo que a falta de liberdade é bem mais pesada do que a mesma. E sempre agradeci aos céus nascer num tempo e numa sociedade em que posso escolher o meu destino.Cidalinanoreply@blogger.com